Até à data, nenhum bombista suicida palestiniano, homem ou mulher, sobreviveu para contar a sua história. Arin Ahmed, arrependeu-se e não detonou os 30 kg de explosivos que transportava nas suas costas, numa manhã de 2002, num parque em Rishib Letzion, uma cidade na periferia de Telavive.
Arin conta agora a sua história ao mundo e esteve em Lisboa, numa conferência no ISCTE, organizada pela Cunha Vaz Associados.
A sua revolta pela ocupação israelita e pelos massacres à população palestiniana, foram as motivações que pesaram na decisão de uma jovem de 20 anos em se fazer explodir, decisão de que se arrependeu, quando o rosto de uma criança anónima, na praça onde planeava o atentado, lhe revelou que afinal iria matar civis inocentes, quando a sua revolta era contra o exército israelita.
A análise que faço a esta conferência na perspectiva da comunicação é que, sem prejuízo do interesse inquestionável do testemunho, a opção por conduzir a entrevista em língua inglesa foi um erro. Apesar do esforço de Arin para se expressar em inglês, fiquei com a sensação que ela tinha tanto a dizer e esta língua foi um manifesto obstáculo à comunicação. Quando Arin respondeu, por sua iniciativa, a uma pergunta na sua língua materna, não percebi rigorosamente nada do que disse, mas senti pela primeira vez na sua voz a emoção de quem conta uma historia que é a sua vida.
Uma situação em que a comunicação, por via de um tradutor, seria muito melhor, quer para o emissor, quer para os receptores.